30 junho 2016

Crônica: Devaneio de um quase ser

                                             Devaneios de um quase ser




Olho o celular na esperança que alguém tenha ligado ou mandado alguma mensagem, mas já são 01:40. No prédio em frete a última janela se apaga, assim como meu cigarro, que já estava pela metade, e tomo mais um gole do meu chá barato e frio. Já deve ser dia em algum lugar do mundo, alguém com seu terno passado impecavelmente toma seu café da manhã com sua família e o marido briga com a esposa que ainda não está pronta, pois acordou atrasada novamente... Mal sabe ele que ela ficou até as tantas passando aquele mesmo terno que ele estava vestido. Vai ver a luz da janela dela também foi a última a se apagar. Vida cotidiana, sabe?! Coisa corriqueira, mas que não é tão banal assim.
O pensamento voa, pois nem ao menos possuo alguém para brigar por uma roupa mal passada, nem ao menos uma guerra para lutar se não a interna. Mas será que os dias estão passando assim tão rápidos ou a nossa percepção de tempo que está distorcida? É tanto o que fazer. É tanta confusão, é tanta loucura.

O governo atual, que não está lá dos melhores está a ponto de piorar, toda a situação do país num medo da tal crise que me força a pensar que tudo em mim também pode piorar, tudo pode desmoronar. Penso então em tudo que está desmoronando nesse momento, como se as palavras tivessem o poder de ligar meus pensamentos, onde mal lembrava no que estava pensando no começo. O mundo está desmoronando, ou está se levantando? O mais complicado é tentar tomar partido sem partido. Uma menina foi estuprada por cerca de 30 homens, mas realmente devemos culpar os homens? Ou devemos nos culpar, pois estamos inseridos numa sociedade que não é nem machista, é desumana! Mas no fim é sempre culpa do governo. Não é que não devemos nos preocupar apenas com os outros, mas o reflexo de mim, dessa depressão que assombra, o reflexo disso é no outro, e o que me deixa assim? A angústia por tentar ser alguém que a sociedade espera que eu seja. E se o meu pensamento está assim, imagina dessa menina que foi violada por tantos mesmo querendo os tantos, não foi respeitado o momento do não, esse mesmo momento que não respeitamos todos os dias quando o corpo pede por pausa e insistimos em continuar, e ainda depois nos perguntamos por que estamos tão sem tempo. 


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